Perfeição espiritual
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Perfeição espiritual? A realidade é bem diferente!

Discursos idealizados ou inatingíveis ainda predominam entre os que prometem tornar a sua vida mais leve e mais feliz

Enquanto temas sobre diversidade, identidade, questões de gênero e modelos familiares estão sendo amplamente debatidos; nas práticas de autoconhecimento e de espiritualidade ainda é comum encontrar discursos padronizados, rígidos, espelhados em modelos idealizados de perfeição espiritual.

Ao mesmo tempo em que o discurso de que a saúde mental e o bem-estar são importantes, na prática a busca é por uma estratégia ou uma solução rápida para eliminar o problema. Apesar do discurso de empoderamento, ações mostram que ainda o sentimento é de vergonha e de que existe algo de errado com a pessoa.

Não importa qual é o seu problema, tem um livro, um curso, uma meditação ou um aplicativo para isso. Resumindo, a mensagem que fica é: tudo bem você ter algum problema, mas trate de dar um jeito logo nele.

“Vivemos em uma cultura que apenas quer falar do que está indo bem. Tudo o que não vai bem é classificado como um desvio da estrada principal. A verdade é que a dor não é um desvio da estrada principal. Dor é parte da estrada que trilhamos como seres humanos”, diz o trecho de “Bittersweet: How Sorrow and Longing Makes us Whole”, novo livro da escritora Susan Cain, que ao lado de nomes, como Brené Brown, vem difundido como trabalhar emoções de maneira mais realista, distante das idealizações.

A terapeuta energética paulistana Cecilia Panipucci acredita que o perfeccionismo é um empecilho em várias áreas da vida. “É uma preparação excessiva porque no fundo acreditamos que não somos boas o suficiente no assunto. Que ainda não sabemos o suficiente. A partir daí, não nos sentimos prontas. E continuamos numa busca eterna da perfeição. E com a espiritualidade é assim também. 

Parece que não reconhecemos o caminho, o aprendizado, a beleza, a transformação no processo”, diz.

Uma das primeiras pessoas a levantar a questão foi Sarah McKay, autora do livro The Women’s Brain Book. Em 2016, ela publicou um artigo em que contestava o que, na época, chamou de ‘panaceia da meditação’. “Funciona para muitas pessoas. Eu realmente não gosto e então não funciona para mim”, escreveu. “Para minha surpresa, muitas pessoas para quem eu confessei isso, concordaram embaraçadamente.”

Além de jornalista, também sou instrutora de meditação, e minhas conversas sobre o assunto normalmente são sobre as dificuldades na prática e não sobre os benefícios. E muitas pessoas se mostram ansiosas e até estressadas por não conseguirem meditar. 

Muitos também manifestam frustração por não terem atingido resultados como sabedoria interior, transformação pessoal, redução do estresse, aumento do foco, melhor saúde mental, sucesso e prosperidade em diversas práticas espirituais.

É fácil identificar uma das razões para isso: uma rápida busca nas redes sociais, em materiais de divulgação de cursos de autoconhecimento e espiritualidade, te coloca em contato com padrões idealizados.

perfeição espiritual
Perfeição espiritual

“Quando nos comparamos, entramos na caminhada do outro, que traz a sua própria história e tem o seu caminho para trilhar, e aí nos perdemos, nos desconectamos da nossa essência e isto gera estresse, ansiedade e perdemos a sensação de pertencimento. E seguimos na nossa busca pela perfeição, pelo que falta, e vamos buscar mais em outro curso, técnica…. Parece que se a gente se encaixar num modelo ou no que acreditamos que deu certo para o outro, tudo vai dar certo. Porque não confiamos em nós. O perfeccionismo vem desse lugar onde, em algum momento da nossa vida nos colocamos ou colocaram. Não tem receita pronta: é um exercício de autoconhecimento para retomar o nosso caminho de volta para casa, confiar, acreditar”, ensina Cecilia, que aponta os efeitos negativos até sobre a energia pessoal.

“Vibrar essa necessidade de perfeccionismo é ter um ralo aberto drenando nossa energia constantemente. Nada é suficiente. E isto gera um estado de frustração. Assim não tem como manter a nossa energia em alta!”, explica.

Perfeição espiritual: receitas prontas

Medite todos os dias e você não enxergará mais problemas na sua vida. Aprenda a cocriar seu destino e então o Universo irá te dar tudo aquilo que você deseja. Faça um retiro espiritual e torne-se um ser de luz. Ouça os sinais enviados por seres superiores e você sempre saberá que decisão correta tomar. Tenha apenas pensamentos positivos e garanta sua felicidade.

Essas são algumas das mensagens compartilhadas por pessoas que atuam na área de autoconhecimento, autoajuda e espiritualidade em diversas técnicas.

E na prática, a realidade é bem diferente. É como explica o autor Jonathan Fields em relação à meditação: “Ela aumenta seu poder de observação. Ela para o movimento da água para que você possa enxergar o que está embaixo, sobre a areia. Mas se você não gostar do que você enxergar, isso não fará você se sentir melhor.”

Alguns especialistas divulgam a ideia de uma espiritualidade mais realista falando sobre “abraçar sua sombra’, ‘trabalhar sua sombra’, em referência ao que julgamos ser negativo na jornada de evolução e autoconhecimento para, novamente, ensinar diversas estratégias para ‘jorrar luz sobre ela’, ou seja, rapidamente eliminar o que julgamos errado.

perfeição espiritual
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O pensamento de Buda

Quando iniciei meus cursos e treinamentos da escola espiritual onde estudo até hoje, os monges falavam que não queriam ouvir ‘os pensamentos de Buda’. Eles faziam referência às teorias, filosofias e idealizações geralmente compartilhadas pelos alunos durante as aulas.

Enquanto éramos treinados para identificar o que passava no nosso mundo interior, logo alguém iniciava um discurso com as mais lindas frases descrevendo todos os estados de iluminação que deveríamos buscar. 

“Esse pensamento é de Buda. Quero que você veja a sua realidade interior e onde você está”, ensinavam.

Espelhar nossas expectativas de crescimento e evolução em seres iluminados, divindades ou em mestres espirituais é uma armadilha, como define a psicóloga Clarissa Pinkola Estés, referência mundial no estudo de arquétipos e símbolos de tradição oral, autora do famoso livro ‘Mulheres que Correm com os Lobos’.

“Enquanto arquétipos possam emanar através de nós durante curtos períodos de tempo, uma mulher não pode emanar um arquétipo continuamente. Apenas o próprio arquétipo pode sustentar projeções do tipo sempre capaz, sempre provendo, eternamente energético. Podemos tentar imitar, mas não são ideias, não são atingíveis por seres humanos e não devem ser. Ainda a armadilha faz com que as mulheres se extenuem tentando atingir esses níveis não realistas. Para evitar a armadilha, é preciso dizer ‘Pare’ e ‘Pare a música’ e realmente querer isso”, escreveu em seu best-seller.

Perfeccionismo e a saúde mental

Diversos estudos comprovam que a busca pela perfeição causa mais danos do que possíveis benefícios.

Enquanto existe um lado positivo na busca por maestria ou perfeição em alguma área, o perfeccionismo vem sendo mais frequentemente associado a diversas patologias e problemas mentais, inclusive em adolescentes e crianças.

Segundo uma das pesquisas do maior estudioso do assunto, Gordon Flett, professor do Departamento de Psicologia da Universidade York, no Canadá, pessoas perfeccionistas tendem a se tornar mais rígidas em suas práticas espirituais e demonstram serem inflexíveis psicologicamente.

De acordo com a Psicologia, perfeccionismo é genericamente definido como a adoção de padrões extremamente elevados resultando em autocrítica quando esse padrões não são atingidos.

Diversos estudos também associaram o perfeccionismo a:

  • Procrastinação
  • Culpa e vergonha
  • Estresse
  • Baixa auto-estima
  • Problema interpessoais
  • Desordens alimentares
  • Desordens obssessivas-compulsivas
  • Depressão
  • Suicídio

Traços comuns em pessoas com tendências perfeccionistas:

  • Pensamento do tipo tudo ou nada
  • Altamente autocríticas
  • Medo de falhar
  • Estão sempre na defensive
  • Procrastinadores
  • Auto-estima depende de suas conquistas
  • Necessidade por controle

Especialistas concordam que é difícil distinguir entre a busca por perfeição positiva da nociva, que pode ter impacto na saúde mental.

A chave, dizem, é observar o estado interno: se a busca é pela excelência e a pessoa lida bem com resultados inesperados então é positiva. Se a pessoa vive em constante estado de medo de falhar e busca aprovação alheia, é negativa.

Perfeccionismo na medicina chinesa

Engana-se quem acha que perfeccionismo é mal dos tempos modernos. Práticas milenares como a medicina chinesa e o Feng Shui, técnica de harmonização de espaços, já descreviam estados de perfeccionismo como um desequilíbrio energético.

Ambas as terapias se baseiam no conceito dos cinco elementos da natureza que interagem trocando vibrações. O perfeccionismo está associado a desequilíbrio do elemento metal.

Segundo a especialista americana em harmonização de espaços Katherine Metz, nesse caso a pessoa vive em dúvida, duvida de si mesmo, não tem convicção moral. E então compensa com outra rodada de crítica, ideias fixas, cheias de julgamento e ideias de perfeccionismo punitivo. Ainda que pareça seguro, por dentro se sente sozinho, fraco e inseguro. “A pessoa se compara com os outros buscando algum tipo de rumo, e se apega a regras exteriores para escorar um senso de autoridade vulnerável”, diz.

Como curar o desequilíbrio energético 

Os cinco principais elementos de acordo com a medicina chinesa são metal, água, terra, fogo e madeira. Cada pessoa tem elementos predominantes. O equilíbrio entre eles pode ser alterado por diversos fatores. A boa notícia é que também pode ser rapidamente reequilibrado.

Acupuntura, meditação e outras terapias energéticas são amplamente utilizadas para manter o equilíbrio energético do corpo. O Feng Shui também ensina técnicas de realinhamento energético. Existem várias curas para corrigir a falta ou excesso de algum elemento. 

No caso do elemento metal, associado ao perfeccionismo, tem uma bem simples:

Antes de falar, engula saliva três vezes, ou

Antes de falar, coloque a língua no céu da boca.

Assim você terá um momento para refletir se o que gostaria de dizer será realmente útil e benéfico para a situação

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